Ciclo Limpo: alternativa ao gerenciamento de resíduos orgânicos

Resíduos gerados no município

Na cidade de Botucatu, centro oeste do estado de São Paulo, com aproximadamente 140 mil habitantes, e onde este trabalho está sendo desenvolvido, segundo estimativa do IBGE para o ano de 2017 (2010), são geradas diariamente 92 toneladas de resíduos sólidos, de acordo com o Plano Municipal de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos – PMGIRS, e a média de geração é de 0,689 kg/dia/habitante (BOTUCATU, 2016). Na composição gravimétrica dos materiais que constituem os resíduos sólidos gerados nos domicílios do município, é encontrado o seguinte cenário: 62,9% de orgânicos, 27,9% de potenciais recicláveis e 7,2% de rejeitos. E é na fração orgânica que este texto irá se concentrar.

Geração de resíduos orgânicos

Quando se olha no contexto nacional, vê-se que a fração orgânica representa mais de 50% dos resíduos sólidos urbanos em todos os municípios (BRASIL, 2017). Analisando o contexto global tem-se uma média de 46% de resíduos orgânicos, porém essa fração varia de 64% em países de baixo grau de desenvolvimento econômico, até 28% em países onde a população possui renda média elevada (HOORNWEG; BHADA-TATA, 2012).

O que é um fato comum, é que a fração orgânica representa uma parcela significativa dos resíduos gerados em qualquer contexto, e se destinada de forma inadequada, compromete a salubridade do ambiente urbano, atraindo vetores e doenças. Quando enviada para os aterros geram gases de efeito estufa, principalmente o metano, além de representarem custos elevados para os sistemas urbanos de tratamentos de resíduos (INÁCIO; MILLER, 2009).

Assim, se faz necessário não só identificar e caracterizar diferentes modalidades de experiências em compostagem de resíduos orgânicos, a fim de incentivar novas rotas tecnológicas e estimular a diversificação dos sistemas de gestão destes resíduos nos municípios, como também, compreender como tais processos podem ser desenvolvidos para colaborar com a eficácia das ações municipais e orientar prefeituras no estímulo de diferentes atores (empresas privadas, organizações não governamentais, gestores comunitários e empreendedores sociais, por exemplo).

compostagem de resíduos orgânicos

Nesse contexto, em outubro de 2016 surge o Ciclo Limpo, inspirado em modelos de gerenciamento de resíduos orgânico como o Ciclo Orgânico, na cidade do Rio de Janeiro / RJ e o Re-Ciclo, na cidade de Porto Alegre / RS. O Ciclo Limpo é um modelo de negócios baseado em adesão de pessoas ambientalmente interessadas, onde estas pagam uma mensalidade para ter seus resíduos orgânicos coletados e compostados. A proposta consiste, além dos serviços de coleta domiciliar ou comercial e compostagem descentralizada, no retorno no final de cada mês de 1 kg de composto ou uma muda de hortaliça ou tempero, de acordo com a disponibilidade (conforme escolha do cliente). Cada cliente também recebe um relatório de acompanhamento com o feedback da sua participação, incluindo a quantidade de resíduos coletados no mês, a estimativa da quantidade de composto produzido e as emissões de gases do efeito estufa evitadas.

gerenciamento de resíduos urbanos

Assim também, no caso das coletas domiciliares, quem faz a adesão recebe um balde branco de 18 litros identificado com a logomarca do Ciclo Limpo, com tampa, e um saquinho de lixo biodegradável, de 30 litros, para acondicionamento dos resíduos sólidos orgânicos domiciliares. Um novo saquinho é deixado a cada coleta, que é realizada semanalmente. Assim também, nas coletas em grandes geradores (escolas, restaurantes e lanchonetes, entre outros), as coletas são realizadas em bombonas de 30, 45 ou 50 litros, de uma a três vezes por semana.

Da mesma forma as coletas são feitas as trocas das bombonas plásticas cheias de resíduos por outras vazias. Nesses casos não há a utilização de sacos de lixo.

Além disso, a disposição adequada dos resíduos orgânicos, o Ciclo Limpo também está produzindo um insumo agrícola que não existe no mercado local, que é o composto orgânico proveniente de resíduos orgânicos gerados pela própria população. Assim, incentiva a agricultura urbana oferecendo um produto de qualidade e ambientalmente correto. Mais ainda, tem o potencial de gerar transformações sociais, principalmente através da conscientização ambiental e da quebra de paradigmas com relação aos resíduos e à valorização destes. Assim como a geração de renda e redução de custos econômicos, ambientais e sociais da prefeitura com a coleta, triagem, transporte e destinação final nos aterros sanitários.

Enfim, as referências utilizadas para este texto foram:

BOTUCATU. Decreto n° 10.721, de 21 de setembro de 2016. Aprova o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos – PMGIRS e dá outras providências. Semanário Oficial, Botucatu, SP, ano XXVI, 1.386-A, p. 1-94, 03 out. 2016

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Compostagem doméstica, comunitária e institucional de resíduos orgânicos: manual de orientação. Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo, Serviço Social do Comércio. Brasília, DF: MMA, 2017.

HOORNWEG, D.; BHADA-TATA, P. What a Waste: A Global Review of Solid Waste Management. Urban development series; knowledge papers nº 15. World Bank, Washington, DC. 2012

INÁCIO, C. T.; MILLER, Paul Richard M. Compostagem: ciência e prática para a gestão de resíduos orgânicos. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2009.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo demográfico 2010. Estimativa populacional 2017. 2010.

 

JULIO RUFFIN PINHEL

Nasci em São Paulo / SP, mas moro em Botucatu / SP há muitos anos. Em primeiro lugar, Biólogo de formação. Sem dúvida,”Lixólogo” de coração. Além disso, formado em Ciências Biológicas na UNESP em Botucatu/SP (2003), também nesta época a minha paixão pelos Resíduos Sólidos despertou. Além disso, especialista em Gestão Ambiental no Centro Universitário SENAC em São Paulo/SP (2007). Tive minhas principais experiências profissionais em organizações do terceiro setor, logo depois, destacando a publicação do livro “Do Lixo à Cidadania: Guia para a Formação de Cooperativas de Catadores de Materiais Recicláveis”, que sistematizou um método de capacitação destes empreendimentos desenvolvido quando trabalhei no Instituto de Projetos e Pesquisas Socioambientais – IPESA. Do mesmo modo, outra grande experiência foi ter sido Secretário de Meio Ambiente da Estância Turística de Avaré, no gerenciamento integrado dos resíduos sólidos urbanos.

Sócio-fundadores do Ciclo Limpo, além disso, mestrando do Programa de Energia na Agricultura na Faculdade de Ciências Agronômicas na UNESP de Botucatu

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