A Economia Circular (EC) é atualmente um conceito popular promovido por empresas, países e pela União Europeia, e representa uma racionalidade de maior eficiência no uso dos recursos, oposta à racionalidade linear de extrair-produzir-consumir-descartar. No sistema linear de produção e consumo de bens e serviços, os recursos naturais são extraídos para produção de novas matérias primas utilizadas na produção de novos produtos que, ao final de sua vida útil, são descartados.
A EC busca diminuir a extração de recursos naturais e o descarte em lixão e aterro sanitário, valorizando iniciativas como a reciclagem, o reuso, o compartilhamento, etc. A EC é oposta a uma ideia, ainda muito presente, de criar uma obsolescência dos produtos, de forma que ele se torne obsoleto, forçando o consumidor a adquirir outro. Tal obsolescência pode ser programada, quando há uma redução proposital da vida útil do produto, mas também pode ser perceptiva, quando um novo modelo leva o consumidor a abandonar o modelo antigo, mesmo que ele ainda esteja funcionando. A literatura relata diversas iniciativas relacionadas à EC, mas como quantificar o real benefício destas iniciativas? Uma forma é utilizando a ferramenta conhecida como A Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). A ACV permite quantificar o impacto ambiental de produtos e serviços, podendo contribuir para a comprovação dos benefícios da EC. A utilização da ACV tem crescido muito nos últimos anos, nos mais variados campos do conhecimento. A aplicação da ACV atualmente é normatizada por duas normas publicadas pela ISO, a 14040 e a 14044, que detalham todos os passos para aplicar essa ferramenta. A ACV quem tem se consolidado como um dos principais instrumentos para quantificar o impacto ambiental de produtos, e tem evoluído para incluir na quantificação aspectos sociais e econômicos, permitindo, desta forma, uma avaliação do desempenho de um produto sob a perspectiva ambiental-social-econômica, que considere todas as etapas do ciclo de vida. Para analisar a relação entre a ACV e a EC, foram selecionados 31 artigos científicos publicados até o ano de 2017, que utilizaram a ACV no contexto da EC. A análise desses artigos permitiu identificar uma predominância de estudos realizados no continente europeu, o que demonstra uma maior maturidade dos países europeus no assunto. Foram identificadas 8 áreas de aplicação dos estudos, com destaque para o gerenciamento de resíduos. Hadzic e colaboradores (2017) aplicaram ACV para comparar cenários de gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos a fim de evidenciar as melhorias ambientais resultantes da mudança do sistema de gerenciamento de resíduos linear para um modelo mais alinhado com a EC, que privilegie a reciclagem e o aproveitamento de materiais.
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Os resultados da ACV confirmaram os benefícios ambientais da reciclagem e do aproveitamento de materiais em comparação com a disposição em aterro sanitário. De uma forma geral, observou-se que a ACV foi utilizada como uma ferramenta para quantificar os impactos ambientais relacionados à EC. A EC, por sua vez, apareceu como um direcionar estratégico para a definição de cenários que foram quantificados com o auxílio da ACV. Desta forma, as ferramentas mostram-se complementares e podem, conjuntamente, contribuir para uma melhoria contínua em direção à uma maior circularidade na economia, com benefícios ambientais.
Fonte: https://blog.enciclo.com.br/entenda-o-que-e-acv/. Acesso em 20/08/18
Link para o artigo: http://www.institutoventuri.org.br/ojs/index.php/firs/article/view/643
Dados dos autores: André Teixeira Pontes – Rio de janeiro. Farmacêutico. Doutor em Engenharia de Produção pela COOPPE/UFRJ. Professor Adjunto da UFF.
– Rio de Janeiro. Engenheira de Produção. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ.
Referência:
HADZIC, A.; VOCA, N.; GOLUBIC, S. Life-cycle assessment of solid-waste management in city of Zagreb, Croatia. Journal of Material Cycles and Waste Management, v. 0, n. 0, p. 1–13, 2017.