No texto Compostagem, Decomposição e Nojo falamos rapidamente que sem o processo de Decomposição da Matéria Orgânica a Vida na terra, tal como a conhecemos, seria IMPOSSÍVEL. Mas, por que a Vida seria impossível?
Algumas pessoas podem crer que um mundo onde não houvesse Decomposição da Matéria Orgânica seria o melhor dos mundos possíveis. Argumentos favoráveis a essa tese alegariam que: uma casa ou móvel de madeira duraria para sempre sem nenhum tipo de tratamento ou cuidado; o fim da fome e uma redução considerável da jornada de trabalho, visto que os alimentos estariam sempre à disposição e, melhor ainda, quando fossem colhidos, logo surgiria outro em seu lugar. Felizmente, não temos o poder de Jeannie, a personagem da série televisiva norte-americana Jeannie é um Gênio, que bastava uma piscadela para ter seus pedidos realizados.
Decomposição: fundamental para as florestas
Contudo, se não houvesse decomposição, as plantas necessitariam de uma fonte praticamente infinita de nutrientes disponíveis para crescerem e se expandirem, do contrário, uma vez utilizados os nutrientes de uma determinada região, essa floresta morreria e nunca mais seus restos (troncos, galhos, folhas, frutos…) “sumiriam” da face da terra, a não ser que fossem queimados e virassem cinza. Mesmo assim, aquele solo estaria completamente esgotado, ficando completamente improdutível.
Outro fator a se considerar é que os animais mortos também nunca iriam sumir. Ainda encontraríamos nos dias atuais os corpos, por exemplo, de todos os dinossauros que existiram na terra.
Pensar em um mundo sem o processo de Decomposição acaba nos colocando em confusões mentais, inconsistências e não raramente em paradoxos. Mas, isso só mostra o quanto esse processo é intrinsecamente necessário na história da Vida.
Falando em “história da Vida”
Certa vez estávamos (Ricardo Santander e eu) em uma de nossas peregrinações num dos maiores Ferro Velhos de Porto Alegre – uma experiência pedagógica como poucas que temos na Vida – quando encontramos um senhor alegre e bem disposto aparentando uns 70 anos. De súbito pudemos perceber a mescla de surpresa e oportunidade que surgia em seu rosto e tom de voz. Era um daqueles sujeitos que não perde a chance em criar alguma confusão mental nos mais jovens.
De fato estava ele muito surpreso em encontrar dois “jovens” naquele lugar: “Nossa! Pensei que aqui só fosse encontrar coisas “Velhas”!”. Pronto, a primeira confusão já estava formada em nossas cabeças jovens de mais para captar tudo o que uma frase dessas quer dizer.
“Vocês sabem qual é a vantagem de ser velho?” – Indagou novamente. Entendendo que não haveria resposta cabível, disse: “Não morrer jovem”. Então, uma segunda confusão formada em menos de dois minutos. Percebemos que aquele sujeito sabia bem o que estava fazendo em nossas cabeças e ganhou mais fôlego vendo em nossos comportamentos o sucesso de seu empreendimento.
“E vocês sabem qual é o contrário da Morte?” – Naquela altura não conseguiríamos nem por um milagre encontrar alguma resposta um pouco original. Jogando a toalha, optamos pelo mais óbvio, mesmo já sabendo que o óbvio nunca é a melhor resposta para um enigma ou paradoxo: enfim, “a Vida?”.
Certamente ele estava plenamente satisfeito e por misericórdia não gozou tanto tempo de sua vitória e tascou a resposta: “Não gurizada! É o Nascimento. Enfim, A vida é só o processo que ocorre entre a criação de algo e a sua extinção”.
Confusão mental ou confusão conceitual!?
Da mesma maneira, cai em uma confusão conceitual quem aventurasse em associar o fim da Decomposição com o fim da Morte. Uma confusão interessante para pensarmos esse paradoxo maravilhoso que por vezes nos diz que a vida – desejada e amada – que, no entanto, só é possível pela inquietante presença da morte – temida e odiada.
Autor:
Rafael Holsback
– Professor de Filosofia e Mestre em Educação
– Cofundador da Compostchêira